Deus ex machina é uma frase latina que significa “um deus vindo de uma máquina”. É um calque, ou uma tradução literal, da frase ἀπὸ μηχανῆς θεός (apò mēkhanês theós) em grego antigo, que também significa “um deus vindo de uma máquina”.
A frase, originalmente, se refere a uma engenhoca cênica similar a um guindaste que era usada nos teatros gregos antigos, e sua função era baixar os atores do teto, o que dava a impressão de eles estarem voando. Era usada, principalmente, por atores que representavam deuses.
Você já se perguntou sobre o significado da expressão "deus ex machina" e de onde ela veio? Vamos explorar mais a fundo a origem dessa expressão, que tem suas raízes no teatro grego antigo.
Imagine assistir a uma série de TV onde os protagonistas estão presos em uma situação aparentemente sem saída. De repente, um personagem secundário, que nunca antes tinha sido mencionado, aparece com uma solução miraculosa para todos os problemas. Essa intervenção inesperada, conhecida como "deus ex machina", é uma reviravolta dramática que ocorre quando uma solução é trazida de forma súbita e artificial.
Voltando ao cenário do teatro grego clássico, onde as peças eram encenadas em grandiosos anfiteatros ao ar livre. Durante essas apresentações, quando os personagens enfrentavam situações aparentemente insolúveis, os dramaturgos recorriam a uma técnica peculiar: a entrada de uma divindade no palco. Mas não era uma entrada comum; era uma descida espetacular do céu, simulada por meio de engenhosos mecanismos chamados mecanè.
Essa intervenção divina, conhecida como "deus ex machina", era usada para resolver dilemas complexos e conflitos entre personagens de maneira surpreendente. Imagine a cena: os atores suspensos no ar, como se realmente fossem descendentes dos deuses, para trazer uma resolução inesperada aos problemas enfrentados pelos personagens e para concluir a história de forma satisfatória.
Na peça "Medeia", de Eurípedes, vemos um exemplo clássico disso. No clímax da história, a personagem principal, Medeia, enfrenta um impasse: ela precisa escapar da justiça após cometer um crime horrível. De repente, seu avô, o deus Sol, aparece em uma carruagem mágica e a salva, levando-a para longe da cena do crime. Essa intervenção divina permite que Medeia escape de suas consequências, oferecendo uma solução rápida e conveniente para o conflito.
Outro exemplo vem da peça "Édipo Rei", de Sófocles. No clímax da história, Édipo descobre a verdade chocante sobre sua identidade e comete um terrível ato de autotortura. No entanto, ao invés de enfrentar as consequências de suas ações, a deusa Atena aparece do nada e o poupa do castigo, resolvendo o conflito de maneira abrupta e artificial.
Esses exemplos ilustram como o "deus ex machina" era usado no teatro grego para resolver problemas complexos de forma rápida e às vezes até artificial.
Mas por que os dramaturgos recorriam a esse truque teatral?
Bem, para alguns, era uma solução fácil para resolver problemas complicados sem a necessidade de desenvolver a trama de forma mais coerente. Autores menos inventivos e, por vezes, até preguiçosos, viam nessa intervenção uma saída rápida e conveniente para fechar uma história, sem realmente resolver os conflitos de maneira satisfatória.
Curiosamente, a expressão "deus ex machina" ainda é amplamente usada hoje em dia, fora do contexto teatral, para descrever qualquer solução improvável e conveniente para um problema, especialmente quando parece não haver outra saída à vista. E essa técnica não está limitada apenas ao teatro antigo; ainda hoje vemos exemplos disso em filmes, livros e outras formas de narrativa, quando personagens são salvos por eventos improváveis ou soluções convenientes que parecem surgir do nada.
Um exemplo contemporâneo pode ser visto na série "Game of Thrones". Na batalha de Winterfell, quando tudo parece perdido para os heróis, Arya Stark surge do nada e derrota o Rei da Noite com um único golpe, salvando o dia de forma surpreendente e, para alguns fãs, um tanto conveniente demais.
Outro exemplo ocorre no filme "The Lord of the Rings: The Return of the King". No clímax da batalha entre as forças de Sauron e os exércitos dos homens, elfos e anões, quando a esperança parece perdida, as águias gigantes aparecem do nada para resgatar Frodo e Sam do Monte da Perdição, proporcionando uma solução rápida e conveniente para a trama.
Além disso, na literatura, podemos encontrar exemplos como em "Harry Potter e as Relíquias da Morte", onde, durante a batalha de Hogwarts, quando Voldemort está prestes a vencer, Neville Longbottom surge de repente com a espada de Gryffindor, destruindo a última Horcrux e virando o jogo a favor dos heróis.
Esses exemplos modernos demonstram como o "deus ex machina" ainda é uma técnica narrativa utilizada para resolver problemas complexos de forma rápida e muitas vezes inesperada. No entanto, também levanta questões sobre a conveniência dessas reviravoltas e o impacto que podem ter na credibilidade e coesão das histórias.
Assim, da próxima vez que você se deparar com a expressão "deus ex machina", poderá apreciar não apenas sua origem histórica, mas também a habilidade dos dramaturgos gregos em manipular até mesmo os deuses para amarrar os finais de suas histórias de forma dramática e, às vezes, um tanto artificial.
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